segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A MÃO DO SEMEADOR , DE VERGÍLIO FERREIRA




Desespero de uma perda
 
Quando entrei no quarto, aquele cheiro nauseabundo quase me soltou o vómito. Não sabia o que fazer, mas, o desaparecimento dela justificava que tivesse lá entrado. Ao meu redor tudo estava espalhado em desordem, como se um furacão tivesse agitado as areias daquela praia.
Estaria de tal maneira desesperada para cometer tal tragédia?
Eu, como mãe não fui capaz de ver que tal coisa estaria acontecer com ela. Um sentimento inútil me invade neste momento.
Temia pelo que pudesse encontrar …
Subitamente, espreitei para aquele recanto de onde saía uma luz ténue. Havia uma massa indefinida no chão. Aproximei-me cautelosamente.
E encontrará mo chão uma grande mancha de sangue, uma enorme dor no coração me percorria.
Suspeitei que só poderia ser dela.
Procurei-a desesperadamente e não estava em nenhum canto da casa.
Deixou-me um bilhete no qual dizia que tinha perdido o bebé que ambos desejamos muito.
Não aguentou a dor da perda e isolou-se por uns tempos.
Mais tarde voltou para recomeçar uma nova vida, pois se pusesse fim a minha vida nunca saberia o quanto maravilhoso é ser Mãe.
É por tudo isto que ainda hoje penso que nunca estamos bem. A vida é um oceano de atribulações; umas vezes resistimos-lhe, outras naufragamos.